Interessante é aquilo que nos chama a atenção... e Navidalha já tinha se esquecido disso.
Ela estava há dez anos casada com ele, Rolímpio: o marido exemplar (que tinha uma amante a cada verão, mas nunca deixava de cuidar das coisas). A história entre eles começou numa noite diferente, em que ela era o centro das atenções, justamente por que era diferente de tudo, era diferente do mundo...
O tempo passou e tudo ficou tão igual a tudo, as rugas, a força da gravidade, a intenção da vida já era tão outra que nem se encontrava mais no infinito de "prioridades" onde (agora) a pobre Navidalha tinha se metido.
Seu mundo girava em torno dele e dos filhos (quatro lindas crianças, três meninos e uma menina, que lhe tomavam todo o tempo com estrepolias) do almoço de hoje, da janta de mais tarde, da casa organizada, de tudo menos dela. Por isso nada que podia oferecer, nem a roupa lavada, nem a comida caprichada na mesa, nem o carinho antes do sono, nem o beijo de "bom dia" era interessante de fato...
Ela nunca se dera conta disso. Não era mais interessante...
Engraçado foi que no mesmo dia teve dois encontros com si mesma. O primeiro foi com uma amiga que lhe fizera lembrar de como era, de como tratava as coisas e pessoas, de como encarava o mundo... foi pra casa pensando em como havia mudado, mas fez questão de esquecer rápido. A experiência do dia lhe soou mais como um desabafo frustrado de uma encalhada que tentava jogar areia na sua vida perfeita do que uma verdade dura e crua.
Depois, quando já havia feito as crianças dormirem e de tudo pra apagar o que lhe haviam jogado na cara (tentando "fazer de conta" que nada acontecera e que sua rotina estava "nos eixos") ele lhe deu a bofetada fatal: ela se aproximou e deu um pitaco imbecil nas suas anotações do escritório... ele lhe perguntou, num tom um tanto áspero, se não havia nada de mais interessante a se fazer do que se meter nos assuntos de homem. Nada de mais a fezer... ela percebeu que não tinha mais vida própria, nem vontade própria, nem nada de próprio!!!
Pareceu uma grosseria, num primeiro momento... coitada, de tanto viver a vida alheia, ainda se ofendia quando lhe indagavam a respeito de sua própria existência. depois veio o tom de libetação: a partir daquele dia, ela voltaria a ser ela mesma, soberana e independente... i-n-t-e-r-e-s-s-a-n-t-e.
Não se sabe ao certo se ela conseguiu viver o seu casamento até o fim dos dias... mas que importa? O seu encontro consigo mesma fez dela uma mulher que ainda era fantástica, que ainda sabia ser, que não aceitava nada que a fizesse incomodada... Nossa... há quanto tempo já não se via no espelho frente a frente?
Encontros com os outros, ao acaso, são "lugar comum"... quando nos vemos a nós mesmos, verdadeiramente, é que vale a pena... isso sim dá história!
Quem sou eu
- Queisse
- Mulher, mãe, psicopedagoga... tantas e uma só! Única, como todas nós. A educação é paixão e auxiliar famílias nessa jornada sempre foi um prazer.
quarta-feira, 25 de março de 2009
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