Naquele dia não tinha acontecido nada demais. Ele tinha levantado às sete, como sempre. Às oito, estava no trabalho. Saiu pra almoçar a mesma comida de todo dia, no restaurante da esquina, ao meio dia. deixou o trabalho às 17 horas, mas antes humilhou o porteiro do escritório pra não perder o costume.
O trânsito o deixou louco, como sempre acontecia. Chegou cansado em casa, como era de costume.
Os filhos implorando pela atenção que ele só iria dar no final de semana, o cachorro que nunca viu um só sorriso do dono insistindo pra brincar, a esposa perguntando "como foi seu dia?" e ouvindo como resposta um"bem" tão vago quanto o que teria dito a um completo desconhecido que ousasse se intrometer em coisas tão importantes de sua vida.
Foi dormir às 11 horas, como sempre fazia, sem saber do que poderia estar lhe esperando.
Em sua vida vazia, ouviu o despertador na manhã seguinte, mas não compreendeu o real motivo de acordar sozinho na cama, nem de não ter os filhos à mesa do café, nem de não ver o pobre cão mendigando carinho enquanto mastigava as duas torradas costumeiras de sempre.
Continuou a rotina sem nem se perguntar onde estavam todos. Não se questionava nem se eles existiram de fato algum dia, ou se havia sido um sonho estranho.
Passou a costurar as próprias cuecas, e a comprar camisas decentes, sempre que era preciso. Ele dava as ordens à diarista que nunca teve coragem pra tocar no assunto da família.
Levantava, dia após dia... deitava dia após dia, por anos a fio... até o dia do enfarto. Morreu sem deixar lágrimas... não foi nada demais.
JURAMENTO DE UM AMOR ETERNO
Há 4 dias