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Mulher, mãe, psicopedagoga... tantas e uma só! Única, como todas nós. A educação é paixão e auxiliar famílias nessa jornada sempre foi um prazer.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ataúlpho

Ataúlpho Pontual, até no nome, seu criado! Assim se apresenta o jovem rapaz, barbeiro de mão cheia, Ataúlpho Gomes Pontual: Pontual da família de Seu Joaquim, Gomes da parte de Dona Gertrudes. Todos se esmeram com o horário, pois sabem da fama de intransigente que tem o moço, não perdoa nem cinco minutinhos.

A história de sua vida começou a ser escrita no casamento de seus pais... Gertrudes já tinha mais de três anos de casada quando conseguiu engravidar, a família toda cobrando, o Joaquim pressionando, as apostas na mesa... alguns achavam que a moça era "impossibilitada", outros culpavam o desempenho do marido. Especulações à parte, a esposa havia engravidado, finalmente! Antes tarde do que nunca!

Nove meses passados, a conta do médico bem certinha, a barriga imensa com o neném encaixado e nada! A semana passou como uma eternidade. Todos diziam que era para ter calma, que isso é normal e logo nasceria o menino. O problema é que logo passou a semana, mais uns dias e mais alguns... o parto já tinha sido ensaiado inúmeras vezes, as malas prontas, as chaves do carro bem à mão... e nada.

Engraçado foi quando completou-se duas semanas de atraso e Gertrudes eufórica fez o marido levantar-se no meio da madrugada para correr à maternidade, "eram as contrações"... eram gases! Foi piada no hospital e logo toda a pequena cidade já sabia do acontecido... uma lástima.
Três semanas e cinco dias decorridos da data limite estimada pelo obstetra e resolveram pela cesária, era impossível esperar mais!

No mais, tudo aconteceu como em qualquer família normal, exceto pelo fato de que o menino era meio devagar. Andou aos dois anos e falou aos três. Nenhum exame, nenhuma avaliação e nenhum médico encontraram problemas: era uma criança normal. Mas o fato é que tudo com ele era depois, bem depois do esperado.

O tempo foi passando e, depois de perder várias namoradas que não suportaram as horas de espera no portão - nem os atrasos que fazim perder a seção daquele filme esperado por semanas - Ataúlpho encontrou Engrácia, moça de família, muito bonitinha e doce. Namoraram por sete anos e foram ao altar.

No dia do casamento estava tudo perfeito. A festa foi tão linda que os convidados nem comentaram muito o fato de que a noiva já chorava no altar, se julgando abandonada, quando o noivo chegou (uma hora depois do combinado).

Após anos de compromissos perdidos, chegadas à maternidade com filhos nascidos e diversas demissões por justa causa (com base nos atrasos), Ataúlpho resolveu dar uma guinada e retomar as rédeas de sua vida: fez um curso de barbeiro, abriu seu negócio próprio na garagem de casa e o principal ADIANTOU seu rológio em uma hora. Nunca mais chegou atrasado a nada e ainda trepudia de fregueses "não tão britânicos" com a palqueta afixada com cuidado no fundo da barbearia, que tem os seguintes dizeres em letra dourada: "O senhor sabe que está atrasado?"

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