Sentava-se como num ritual de obrigação, a mesa mal posta pro café da manhã apressado, olhava pro pão "dormido" e nem tinha muito apetite. Na verdade não tinha nem tempo de lembrar como foi bom estar ali, um dia... não era aquela mesa, nem aquele café solúvel, nem a margarina de semanas.Quase nem se lembrava mais do sabor da manteiga no pão quente.
Tomava o primeiro ar do dia já na rua, na correria nunca podia abrir a janela do apartamento minúsculo, escuro, sem nada de pessoal. O ônibus lotado, o balcão da loja, gente que veio "só dar uma olhadinha", a comissão pequena, a louça pra lavar e mais um final de semana já estava chegando. Era sexta-feira, novamente.
Se perdeu no horário enquanto pensava na rotina, saiu correndo e se pendurou no cano da condução, abriu a porta pesada, abriu o caixa, cupriu seu ritual. Cumpriu o horário. O corpo cansado de um dia daqueles, de uma semana inteira, de uma eternidade!
Uma cervejinha? Hum, quem sabe? Já estava lá: o bar...
As pernas frágeis da mesa de ferro sem equilíbrio nas pedras da calçada, as colegas de trabalho que não eram amigas, o pandeiro que batia uma música que ela detestava, a paquera com o cara que não era aquele... o toque que não deu arepio, o abraço que não deu amor, os beijos que não têm carinho, a noite que não descançou, a manhã que não tinha ninguém.
Sentada à mesa mal posta pro café sem pressa, não tinha nem o pão "dormido" (e nem tinha apetite nenhum). Na verdade, não tinha nem nada pra querer lembrar, nem pra querer viver, nem pra querer querer.
A janela! Foi até ela e resolveu espiar o mundo... a janela aberta, depois de tanto tempo... asas pra voar.
Quem sou eu
- Queisse
- Mulher, mãe, psicopedagoga... tantas e uma só! Única, como todas nós. A educação é paixão e auxiliar famílias nessa jornada sempre foi um prazer.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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