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Mulher, mãe, psicopedagoga... tantas e uma só! Única, como todas nós. A educação é paixão e auxiliar famílias nessa jornada sempre foi um prazer.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O bolo

Jenciny estava ansiosa com a primeira visita do Astrinho (jeito carinhoso que ela chamava Astrogildo, seu novo namorado). Ela não sabia o que fazer pra agradar ao moço!

Já tinha quase três anos que ela morava sozinha na cidade, tinha vindo pra estudar e, desde então, nunca havia recebido nenhuma visita masculina no apartamento.

Resolveu fazer um bolo, pra passar o tempo e controlar a ansiedade...

Achou melhor acender o forno antes de preparar a massa, pra já ir aquecendo e adiantar o serviço. Acabou com uma caixa de fósforos até se dar conta de que acender o forno com a janela da lavanderia aberta seria uma missão impossível...

Tudo bem, forno aceso, hora da receita: bolo de chocolate! Escolha certeira porque, além de ser sua especialidade, ainda era o preferido do amado... Ah, não! o chocolate em pó acabou... bom, ela com seu jogo de cintura de cozinheira de mão cheia contornou muito bem a situação. Preparou a massa branquinha, mesmo, pensando em plantar no meio alguns pedaços daquele chocolate horrível que ganhou do seu chefe, na Páscoa... pra recheio devem servir!

Quase todos os ingredientes na bacia, ela ponderou sobre o que acrescentar antes, o fermento ou o chocolate? O fermento!!! Não tinha fermento!!! Como ela poderia ter se esquecido disso? Logo ela que sermpre que faz um bolo pra alguém fica tensa só de pensar em servir uma travessa batumada...

Desceu como se fosse uma flecha até a mercearia do Seu Jonas, comprou o fermento e quase não sentiu os três lances de escada. Já estava na cozinha: fermento em punho, na massa... a massa na forma, com o chocolate misturado, tudo no forno.

Entrou no banho pra ficar cheirosa, um jeito no cabelo, um vestidinho casual, o bolo em cima do balcão da cozinha e nada do Astrinho, quase uma hora de atraso. Tocou o telefone! Devia ser ele!!! Desde que o interfone quebrou, essa era a única maneira de avisar que se estava esperando lá em baixo.

Oi, amor... o quê? Você não pode vir? Dor de barriga??? Mas eu fiz bolo de chocolate... Não vai dar? Compreender??? Cobras e lagartos (me poupo de entrar nos detalhes sórdidos).

Fim de noite, fim de relação... fim de regime!

Pé na bunda.

É, Franscesneywa (ou Fran, como ela prefere) está sozinha denovo... mais uma dispensada no prazo de dois meses. Ela não consegue entender como se processam as coisas na a cabeça dos homens.

Na verdade ela já tentou de tudo e nada dá certo, já se fez de difícil, se entregou na primeira... ligou no dia seguinte, pra mostrar interesse, se segurou pra não ligar e nunca recebeu o telefonema dele...

Nem as horas no salão, os dias perdidos na academia ou no Centro de Estética da Riwalda dão resultado... nem as roupas que a deixam com mais da metade do seu corpo à mostra, nem as risadas escandalosas na mesa do bar surtem efeito na hora de fisgar de verdade. Por que "ficam" se não têm o mínimo interesse real???

Em todos os rompimentos ela repete o ritual: chora como uma desesperada, no primeiro instante em que se vê sozinha, coloca o travesseiro em cima da cabeça que é pra abafar e ninguém escutar o choro, depois fica parada em frente ao espelho do banheiro tentando entender como ela afugenta a todos, como ela nunca acerta o alvo, como tudo pode sempre dar errado pra ela e como sua cara inchada de chorar fica péssima!

No desespero de encontrar alguém, topa tudo o que vem pela frente. Serve o figurão da política que a trata como garota de programa, o segurança da casa de shows, o gatinho que enviou uma cantada pelo orkut, o marido da prima, o coroa desesperado do site de relacionamentos, aquele colega de trabalho com fama de galinha, o cara que arrumou o encanamento... o que vier ela traça!

Dá errado, sempre!

Também, só ela pra insistir...

O que se processa na cabeça dos homens? Ela nunca percebeu que o problema não é com eles, nem é com ela, é com a falta de critério... critério que se baseia muito mais na imagem que se transmite ao outro do que aquilo que realmente se é...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ataúlpho

Ataúlpho Pontual, até no nome, seu criado! Assim se apresenta o jovem rapaz, barbeiro de mão cheia, Ataúlpho Gomes Pontual: Pontual da família de Seu Joaquim, Gomes da parte de Dona Gertrudes. Todos se esmeram com o horário, pois sabem da fama de intransigente que tem o moço, não perdoa nem cinco minutinhos.

A história de sua vida começou a ser escrita no casamento de seus pais... Gertrudes já tinha mais de três anos de casada quando conseguiu engravidar, a família toda cobrando, o Joaquim pressionando, as apostas na mesa... alguns achavam que a moça era "impossibilitada", outros culpavam o desempenho do marido. Especulações à parte, a esposa havia engravidado, finalmente! Antes tarde do que nunca!

Nove meses passados, a conta do médico bem certinha, a barriga imensa com o neném encaixado e nada! A semana passou como uma eternidade. Todos diziam que era para ter calma, que isso é normal e logo nasceria o menino. O problema é que logo passou a semana, mais uns dias e mais alguns... o parto já tinha sido ensaiado inúmeras vezes, as malas prontas, as chaves do carro bem à mão... e nada.

Engraçado foi quando completou-se duas semanas de atraso e Gertrudes eufórica fez o marido levantar-se no meio da madrugada para correr à maternidade, "eram as contrações"... eram gases! Foi piada no hospital e logo toda a pequena cidade já sabia do acontecido... uma lástima.
Três semanas e cinco dias decorridos da data limite estimada pelo obstetra e resolveram pela cesária, era impossível esperar mais!

No mais, tudo aconteceu como em qualquer família normal, exceto pelo fato de que o menino era meio devagar. Andou aos dois anos e falou aos três. Nenhum exame, nenhuma avaliação e nenhum médico encontraram problemas: era uma criança normal. Mas o fato é que tudo com ele era depois, bem depois do esperado.

O tempo foi passando e, depois de perder várias namoradas que não suportaram as horas de espera no portão - nem os atrasos que fazim perder a seção daquele filme esperado por semanas - Ataúlpho encontrou Engrácia, moça de família, muito bonitinha e doce. Namoraram por sete anos e foram ao altar.

No dia do casamento estava tudo perfeito. A festa foi tão linda que os convidados nem comentaram muito o fato de que a noiva já chorava no altar, se julgando abandonada, quando o noivo chegou (uma hora depois do combinado).

Após anos de compromissos perdidos, chegadas à maternidade com filhos nascidos e diversas demissões por justa causa (com base nos atrasos), Ataúlpho resolveu dar uma guinada e retomar as rédeas de sua vida: fez um curso de barbeiro, abriu seu negócio próprio na garagem de casa e o principal ADIANTOU seu rológio em uma hora. Nunca mais chegou atrasado a nada e ainda trepudia de fregueses "não tão britânicos" com a palqueta afixada com cuidado no fundo da barbearia, que tem os seguintes dizeres em letra dourada: "O senhor sabe que está atrasado?"